Entre cores e muita criatividade, o Mestre Tarcísio cria, brinca e fortalece a cultura popular caririense há 47 anos. Reconhecido em 2025 como um dos novos Tesouros Vivos da cultura de Juazeiro do Norte, é brincante desde criança, confecciona trajes para grupos de reisado e é um dos fundadores do Reisado São Miguel.
Com 10 anos de idade, encantado pelo reisado, Tarcísio dedicou-se a aprender. Segundo ele, era muito bonito, e logo passou a gostar muito. Inicialmente, ia até escondido para a casa do seu mestre, Sebastião Cosmo, para ensaiar e brincar. Segundo o próprio Tarcísio, quando começou na brincadeira, seus pais não queriam que ele participasse.
"Um dia, meu pai me viu trajado e disse que eu não poderia brincar reisado, pois não era coisa de homem", conta o mestre. Com a ajuda do mestre e de outros componentes do grupo, Tarcísio conseguiu a permissão dos pais para continuar.
No primeiro grupo de reisado do qual fez parte, o Reisado São Sebastião, permaneceu por 12 anos. Lá, também aprendeu a confeccionar os trajes a partir da observação. Com o tempo, durante um período natalino, seu mestre comentou: "o meu traje era mais bonito do que os outros que lá estavam, inclusive até mais do que o dele que me ensinou", relembra Tarcísio.
O mestre conta que, no início, nem mesmo sabia pegar numa tesoura. Hoje, cria os trajes com criatividade, utilizando recortes de espelhos e modelagens únicas. "Tem uns 30 anos que crio os modelos que vêm na minha cabeça", afirma.
Com papelão, cola, cetim e tesoura, é possível iniciar a ornamentação de um traje para um brincante de reisado. Esses são apenas alguns dos materiais usados por Mestre Tarcísio para confeccionar capacetes, peitorais, saias, cafuringas (chapéu usado pelo Mateus) e espadas. Hoje, ele é referência no Ceará na produção desses elementos. Muitos dos trajes que criou ao longo do tempo foram doados para outros grupos da região.
Durante a vida, o mestre chegou a se afastar temporariamente do campo cultural. Mudou-se para Fortaleza, onde trabalhou em uma fábrica. Antes disso, em Juazeiro, também havia sido sapateiro. Na fábrica, permaneceu por quatro anos, mas acabou pedindo demissão e retornando à cidade e à vida de brincante. "Fui para Fortaleza trabalhar em outro setor, mas o amor pelo reisado era tão grande que pedi as contas da empresa e voltei para Juazeiro para brincar no reisado de novo", relembra.
Desde então, junto com o Mestre Valdir, ajudou a fundar o Grupo de Reisado São Miguel. Com o grupo, participou de apresentações em diversos lugares do Nordeste, além de conferências, cursos e encontros de mestres da cultura popular. Um dos destaques foi o curso de intercâmbio entre o grupo Cordão de Caruá e a Universidade Federal do Cariri, realizado em Fortaleza.
Atualmente, o Mestre Tarcísio também é instrutor de reisado em sua comunidade, no bairro João Cabral. Lá, além de ensinar a arte da dança, também orienta os mais jovens na confecção dos trajes usados nas apresentações anuais da região, como no Ciclo de Reis, Juaforró, entre outros eventos culturais.